sábado, 30 de maio de 2015

Um País sem Amor e paixão

Como pessoa tenho defeitos e virtudes como quase toda gente, talvez não tenha explorado minhas potencialidades de jovem, que lia muito, era interessado e apaixonado por áreas tão diversas como mundo animais selvagens, literatura variada, Eça Queiroz, Alexandre Herculano, Milan Kundera, Julio Verne, F.Scott Fitzgerald,etc.Duvidas existenciais sobre o divino, participação activa na comunidade, apaixonado pelo desporto, quer como espectador, quer como praticante, apaixonado pela música,  e acima de tudo pela comunicação com pessoas.
A vida tem coisas irónicas,  e tenho consciência,  que muitas destas virtudes não evoluiram, e até em alguns casos retrocederam.
Como não casei, talvez tenha transposto para minhas aptidões, o ritual da acomodação,  adormecimento, facilitismo tão comum entre casais após enlace matrimonial.
No entanto, a paixão pelas coisas, mantive-a e cheguei à Universidade cheio de sonhos e romantismos, que rapidamente se esvairam.A grande cidade, e uma sociedade Portuguesa que desde a década de 80 se tornou, individualista, materialista, e perdeu a imagem romântica e simpática,  que tantas vezes ouvia ser carateristica do povo Português na recepção dos turistas,estrangeiros, que nos achavam dos povos mais hospitaleiros, simpáticos,  e prestáveis...onde isso lá vai... foi-me moldando, nem sempre para melhor...
Somos sempre culpados de parte significativa das coisas más que nos acontecem, reconheço isso, mas os românticos e idealistas são claramente ultrapassados por uma sociedade que previligia a "chico espertice" e sacanagem interesseira que grassa actualmente.
Lembro que chegado a uma realidade abrangente mas entusiasmante do meio Universitário,  bati contra o muro da ingenuidade de dar prioridade ao amor à causa do que me envolvia: dirigismo associativo foi minha base, para o bem e para o mal, tudo o que me tornei, adveio dessa experiência.
O amor à causa, era não olhar a esforços e custos, para deixar obra, era querer deixar marca, fazer a 1a queima das Fitas dentro da Universidade, com um orçamento enorme, que um dirigente associativo caciquista e interesseiro, não só usaria em proveito próprio,  como nunca arriscaria pescoço caso corresse mal, extra o trabalho homérico...fiz garraiada com praça touros na área campus universitário,  erguer balão gigante junto à Câmara Municipal com logotipo da Universidade a quem tanto dei...deixei um parque estacionamento que era puro mato,fazendo terraplanagem que mais tarde permitiu à administração,  construir o dito parque estacionamento, realizei um projeto há muito nos programas eleitorais das associações Académicas- Rádio interna, que mais tarde se tornou em projeto da programação oficial da Porto 2001 capital europeia cultura, com um centro formação profissional, organizando eventos que marcaram o cenário Académico não só da Universidade como da Academia Porto, como Gala Prémios Minerva e concurso Look Académico,  todo este empenho, resultou em 2008 numa punhalada nas costas da administração Universidade que me desrespeitou e ignorou minha dedicação aos projetos que mesmo tendo carizes interesses pessoais, sempre promoveram a Instituição Ensino.
Paralelamente observo um País que começa a ser reflexo deste exemplo  crescente de falta de princípios,  prepotência de quem se acha acima de tudo e de todos, instituições poderosas corruptas, são incontáveis os exemplos, e toda esta minha descrição,  exatamente para explicar porquê de tal.
Falta de paixão e amor às causas...sem romantismos bacocos, e tendo aprendido que idealismos que tinha, eram desajustados, o pragmatismo do sucesso a todo custo, o querer darmo-nos bem seja de que forma for, e acima de tudo, o lema....que se lixe o projeto e as pessoas eu estou acima de tudo, explica os BPN's, BES, politicos, empresários corruptos, sócios desleais e irresponsáveis,  funcionários mercenários,  este é o cenário actual de um País cada vez mais ...cada um por si, e feche a porta quem vem a seguir...
Nada do que descrevi, retira minhas responsabilidades, escolhas, mas apesar de reconhecer minhas falhas, sempre dei prioridade à paixão ao amor às causas, acima das vantagens pessoais, não estou com isto a defender este romantismo ingénuo,  de que não devemos acautelar nossos interesses, hoje estou mais pragmático,  mas também reconheço,  que promovemos com este estado de coisas, piores pessoas, um mundo de cão,  onde vale quase tudo...
Sem paixão e amor ao que fazemos, nunca seremos uma sociedade justa e equilibrada, estamos a promover a chico espertice e aldrabice...eu não me sinto bem num País sem paixão e amor às causas...onde o sucesso se mede pela conta bancária,  e carro na garagem, onde amizade é muitas vezes interesseira, o afecto calculado, a sociabilidade contextual e apenas politicamente correta...talvez por isso, me sinto cada vez mais, um estrangeiro na própria Pátria....