sábado, 25 de março de 2017

A Vida numa Música nº 2- Se cá nevasse fazia-se cá ski


https://www.youtube.com/watch?v=wau6-qDxRy4

Não sou do tipo saudosista, do slogan "ó tempo volta para trás" mas concerteza cada época tem seus encantos e memórias, não tenho problema em confessar que os anos 80 são a década que me marcou mais, porquê? Porque depois dos 90 é mais dificil, recordarmo-nos de tantas diferenças, de ambientes tão específicos. Talvez o facto da passagem da adolescência para a idade adulta, seja marcante, mas basta irmos aos álbuns de fotografias da época ( quem não se lembra das Kodacs), para percebermos como especial era essa época, nunca mais me verei com calças á boca de sino.
O País, estava estagnado, não tínhamos estradas, transportes, a tv era a inicialmente a preto e branco, com mira técnica, só umas horas por dia, que "religiosamente aguardávamos" para ver programas, que só nossa geração se tem noção dos "icones que foram": Sitio do Picapau amarelo, o Tal canal com o génio da altura do Herman e do seu Tony Silva,  Homem da Atlântida, Tom Sawyer, Abelha Maia, Marco, Era uma vez..., Buck Rogers, Galactica, Espaço 1999, Soldados da Fortuna, Zé gato, enfim havia menos programas, opções, mas talvez por isso, os programas marcavam mais...continuo a adorar tv de qualidade...mas a memória não é tão marcante.
Apesar de angló-saxónico musicalmente, até na música Portuguesa, as memórias são marcantes...quem não se lembra dos Jafumega..a ponte é uma passagem para a outra margem..., ou GNR nas Dunas...ou Rui Veloso qual milhafre ferido na asa...ou os Grupo de baile...as raparigas das escolas secundárias, já fumam ganza na paragem do electrico...ou os Trovante com a inesquecivel, Florbela Espanca...ser poeta é ser mais alto, morder como quem beija...
Que grande música Portuguesa se fez cá pelo Burgo...ao ponto de, se hoje me dissessem, que uma tipa que tenho verdadeiro "asco" e animosidade, chamada Manuela Moura Guedes, teria cantado uma brilhante musica nos anos oitenta, eu diria que era tanga e só se fosse naquelas galas pimba da TVI em que os pivots do canal dão uma de músicos de trazer por casa,acreditaria, mas não é que era verdade, e apesar da autoria da letra ser do inspirado MEC, a na altura moça ( hoje um inchaço de botox) esteve bem e marcou-me com uma melodia deveras marcante, com ...Foram Cardos foram prosas...
Mas se há musica que me marcou, pela singularidade, pelo facto da banda nem sequer ter tido grande exito ( os Salada de frutas) mas cujo malha poderia perfeitamente ser lançada hoje com total actualidade e sucesso, foi o ...Se cá nevasse, fazia-se cá ski...nunca mais me esqueci desta cacofonia marcante do... fazia-se cá ski,...e uma vez mais a mente é prodigiosa e tortuosa, pois, sem haver ligação lógica, sempre que ouço esta música, lembro-me do meu Tio Zé Mendes, figura singular da minha infância, num casamento, a explicar a uma das pessoas que se havia sentado connosco na mesa do casório, como fazer para com o garfo, acertar numa "atrevida Azeitona" que teimava em escorregar ao dente do garfo do Senhor... dizia ele num ar sério ( nunca ninguém sabia quando ele estava sério ou a brincar)...meu caro, primeiro você tem que cansar a azeitona ( enquanto rolava com o garfo a azeitona de um lado para o outro do prato, sem nunca a tentar espetar)...agora que ela está cansada, ai sim, você ataca ( e nessa altura, num agil movimento de cima para baixo, espetava a azeitona com o garfo levando-a sarcasticamente á boca, enquanto o pobre do Homem olhava atentamente, pensando no inicio da intervenção do meu Tio, que algo de relevante lhe iria ser revelado...mas no fim foi, só...se cá nevasse fazia-se cá ski...Grande Zé Mendes...

terça-feira, 14 de março de 2017

A Vida numa Música- Against all ods

https://www.youtube.com/watch?v=uVjEcIANv1o

Estamos a meio da década de 80, eu sou um pré teen ager, vivendo na provincia, num País pouco mais que subdesenvolvido, em que a TV era a porta para o Mundo ( a internet da altura), e em que as coisas simples, eram ampliadas e vivenciadas como o meu centro do Mundo, como estar na cave da casa dos meus Pais ( tantas memórias e tantas horas da minha vida)a ouvir por horas e horas, primeiro discos de vinyl ( 20 super exitos, 22 superbombas, Julio Iglésias, Rafaela Carrá, Demis Roussos, Abba etc, etc) tudo discografia dos meus Pais, e nem tudo era mau...Era altura do Top Disco, esperar pelo dia do programa da tv e fazer da divulgação da lista, como se de um jogo de futebol se tratasse, torcendo para que minhas musicas favoritas, estivessem nos 1ºs lugares do Top, vibrava com a subida de lugares do Wouldn't it be good ou The Ridlle do Nick kershew, ou Girls on Film ou Rio dos Duran Duran (minha 1ª banda favorita na adolescência, tendo depois de ir para ensino secundário amadurecido e escolhido os Dire Straits como melhor banda do Mundo e arredores).
Eram os tempos de aproveitar as coisas banais como ver um jogo de futebol, dar na tv era um acontecimento (  muito poucos jogos eram transmitidos em directo, acompanhar um Mundial de Futebol era um acontecimento, recordo-me perfeitamente do Mundial do México, depois de  Portugal entrar em grande com vitória sobre a Inglaterra, e perder para Polónia, precisarmos de bom resultado com Marrocos e o jogo ser á noite e minha mãe, já me ter deitado, eu ter escondido um radio a pilhas debaixo da cama, e depois não funcionar, e eu desesperar por saber o que se estava a passar,e perceber mais tarde, que haviamos perdido para os Mouros ( e estes eram os genuínos, não os da 2ªa circular).
Há coisas na nossa memória que não são explicáveis, porque razão, tive minha primeira memória enquanto ser humano ( com dois, talvez três anos) ao colo da minha mãe, numa casa antiga da minha avó, perto de um contador da luz, e com uma banana descascada na mão ( fruto por quem nunca morri de amores)? De facto não foi propriamente um acontecimento marcante, nem de relevância que pudesse justificar, minha primeira memória, mas o cérebro tem escolhas inexplicáveis, e há memórias irrelevantes que ficam e outras marcantes que nem por isso.Concerteza uma que ficou era eu martirizando minha irmã mais nova, sabendo que ela tinha um medo e pânico por um videoclip do Billy Ocean- Loverboy, que tinha uns monstros e andar a cavalo por uma praia, eu de propósito, chamava-a inocentemente á sala quando estava exactamente a passar essa parte do videoclip, enfim infantilidades do irmão mais velho... Uma musica que percorreu toda a minha adolescência e pós, foi Against all Ods do Phill Collins, mais que uma bela balada, cantada com feeling pelo Phil, esta musica foi sempre um símbolo para mim, das festas de garagem esses encontros míticos entre rapazes e raparigas da minha geração, onde a musica slow, era a banda sonora de umas tardes bem passadas, nas casas dos Pais de alguns de nós, que estavam fora e de repente se transformavam numa boite escura, apesar do sol lá fora, ambiente escuro esse, propicio á utilização da táctica da "leitura em Braille" nos corpos das mocinhas, ouvindo cassetes BASF e TDK de 90m supostamente gravadas só com slow's, musica para constituir família...como dizíamos na altura, mas que por esquecimento, lá para os 70m era interrompida por umas gravações esquecidas de ACDC e Aerosmith, mas ninguém parava de dançar slow, mesmo ao ritmo de heavymetal ou hard rock...sacanagem como diriam meus amigos brasileiros...
Against All Ods o "rosso" continuava ( para quem não conhece o termo, rosso, acto de rossar em algo, friccionar, ato de friccção entre dois objetos ou pessoas....rsrsrsr não era malta da geração das festas de garagem?

segunda-feira, 13 de março de 2017

Vida numa Música -Inicio

Sou um individuo sem nenhum talento para tocar instrumentos, nem cantar, ainda que cante razoávelmente, não seria nunca um bom interprete, pois não tenho capacidade de memorização de letras.
Concentrei meus predicados num bom ouvido ( consigo identificar uma música e seu artista ao 1º acorde, em regra)
, e no que considero boa amplitude musical, desde pequeno mesmo sem educação musical familiar, os Pais permitiriam-me acesso a toda a música, quer via rádio, quer através da disponibilização de boas aparelhagens e sobretudo através de amigos mais velhos que me foram educando, para novos géneros de música, além do que ouvia na década de 80 na Rádio e TV.
Gonçalo um amigo da Secundária, dois anos mais velho e também mais maduro musicalmente, introduz-me na musica menos comercial: Dire Straits, Pink floyd, Supertramp, era muito mais Prince que Michael Jackson, mais Springsteen que Wham, mais The Cure que Madonna...nada disto invalida que se fez muito boa musica comercial nos anos oitenta, e porque não confessar os "guilty pleasures"... em ouvir Human League, Duran Duran, Prefab Sproubt, Nick Kershew, etc..
Anos noventa, são uma década que musicalmente não me marcando tanto, me traz maior maturidade musical, apesar do movimento de Seatle (Nirvana, Pearl jam etc) não me ter marcado muito, há também boa musica, marcaram-me artistas como Bjork, Coldplay, Keane, Radiohead, Dos 90 até agora, foi a descoberta da géneros mais alternativos e de fusão: Acid Jazz, Lounge, Bossa Nova New Wave, RN'b, Soul, Crooners foi toda uma descoberta de musica de fusão e vários estilos que me abriram novos horizontes, e me iniciaram na actividade de DJ.
Mas para mim, a musica é muito mais que a simples arte de audição, sons dançáveis, forma de expressão artística, para mim, a musica pode ser tudo que nos faz viver:
Musica como memória de uma época, pessoas, locais, moda e indumentárias de época, Música como forma de nos identificarmos com uma letra,  forma de expressão política, lembrança de um amor, uma Mulher, período académico universitário, memórias aleatórias de situações, família, amigos, coisas importantes, coisas aparentemente insignificantes, mas que ficaram associadas a uma música, uma letra, uma melodia, um som guitarra, um acorde, um rife... No fundo a musica é para mim uma moldura de um quadro que representa a vida, e que me traz memórias, recordações e associações.
Tenho uma paixão pela Rádio, trabalhei e dirigi uma Rádio Universitária, e consegui realizar alguns projectos e programas, mas sempre quis ter um programa em que a Musica fosse apenas a tela que emoldura uma pintura, e nunca o pude fazer.
Vou pois, usar este blogue para tentar de forma "adaptada" fazer um modelo aproximado mas versão escrita e sem áudio, mas desafiando que sempre que vá lançar um artigo ( não querendo regularidade fixa, pretendo semanalmente lançar um artigo).
Esse artigo, terá sempre como "rastilho" a escolha de uma ou duas musicas, por artigo, que me marcaram, mas mais que escrever sobre a musica, escreverei sobre as recordações, associações e ideias que essa musica me traz, solicitando no entanto a todos os que me honrem com sua leitura, simultâneamente enquanto leiam que ouçam os temas que "linkarei"...