quarta-feira, 15 de abril de 2020

Fadding away

Assim como existe uma palavra cujo sentimento e tradução só existe no Português ( saudade),também existem sensações, e estados de espírito que são melhor retratados num  "galicismo", do que no Português.

Estou a escrever pela 1a vez desde início da pandemia, época de facto terrível, assustadora, não só pelo confinamento compulsivo a que a população foi vetada, mas essencialmente, pela insegurança, ansiedade e receio por um futuro que se prevê complicado,quer a nível econômico, quer a nível social.
No entanto, desde início e cada vez mais, estranhamente ( ou não), sinto uma calma, um vazio, uma "normalidade anormal".
A maior parte da minha vida "adulta" foi passada sozinho, e apesar de gostar e apreciar essa vida "solitária", obviamente, sinto necessidade de socializar, conversar, ter parcerias de comunicação, convivência.
Há muito que escrevo sobre sentimento ambivalente que o país, região onde vivo me provoca, uma paixão pela natureza,pelo tamanho, singularidades locais, assim como um há muito crescente desencanto com meio humano que me rodeia.
Não insistirei na questão do ressentimento das pessoas com quem lidei, cheguei a uma fase, onde isso já não é relevante, se é só um "karma" conhecer maioritariamente pessoas que me desiludiram ou frustraram, ou não justificaram o meu investimento pessoal, ou se tantos casos, me levam á inevitabilidade de assumir que o problema é meu, e que se a amostra é quase geral, o problema sou eu...fuck it...isso já não me atormenta, é só uma inevitabilidade, um destino ao qual não vale a pena lutar, o que será, será.

O problema não está nesse baixar de bracos á inevitabilidade, o problema está num gênero de Vortex, poço , espiral que parece tolher-me a reação, um gênero de " definhamento inexorável " já nem tento contrariar.

Isto novamente na sequência do confinamento, que muitos classificam de experiência traumática, que lhes servirá para tudo equacionar e mudar no pós pandemia.
No fundo, um " nada será como dantes".
Pois, para mim, não, obviamente muita coisa mudou neste período, também sinto falta de algumas coisas, mas o essencial não mudou muito.
O ambiente q quase sempre me rodeou de indiferença, falta de sociabilidade, só foi reforçado por este período, a ideia de que as pessoas, aproveitariam esta fase para recuperarem contacto com quem não tiveram possibilidade ou tempo, na chamada "época normal" simplesmente não existiu, pelo menos para mim.
Portanto, "tudo como antes no quartel de Abrantes".
E o pior é que o meu sentido de coragem, aventura de experimentar novos ambientes e realidades culturais,sociais e profissionais, é restringido pelo avançar da idade, contextos atuais complicados desses possíveis destinos.
Não quero ser um "vegetal definhando" numa horta cada vez mais deserta de verde esperança, mas as opções vão diminuindo, e a acomodação é um perigo real.
Vou concentrar minhas energias em recuperar alegria de trabalhar no que amo e me motiva diariamente, mas até aí, a vida mostrou-se madrasta ao atingir violentamente com esta pandemia as minhas áreas atividade...
Sinto-me pois, em Português ...a definhar , mas melhor expresso no inglês ..." fadding way"...como uma fumaça de cigarro desfazendo nuvem com o vento...
"Better times will come, i still hope".

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